PROJETO VII - Habitação de interesse social | Parte I

by Mateus Veronese on segunda-feira, 4 de abril de 2011


Como fiz anteriormente com meu Projeto de Arquitetura VI que caracterizava-se por ser a elaboração de um projeto de uma escola, venho por meio deste post, descrever as experiências dos trabalhos realizados nesta nova disciplina. Tema este que acho muito interessante, pois trata-se de uma área com um campo amplo para o desenvolvimento de projetos alternativos e nem sempre (quase nunca!!!) bem aproveitado.Em aula foram realizados alguns trabalhos já com intuito de aproximar mais os alunos para a questão da habitação social. A ultima atividade foi a elaboração de uma análise de modelos sobre loteamentos para habitações populares. O trabalho desenvolvido em grupo foi a chance que tivemos de ver a realidade dos loteamentos não só da região, mas de vários lugares do Brasil. Podemos perceber e apontar os fatos negativos e os positivos de cada exemplo, e depois incorporar (ou não) em nossos projetos.
Durante a elaboração deste trabalho um exemplo em especial me chamou a atenção.

O caso do Conjunto habitacional Gervásio Maia no município de João Pessoa. Conjunto este que foi classificado entre os dez melhores projetos habitacionais do Brasil., sendo que o título foi conferido pelo 'Selo de Mérito', um reconhecimento oferecido pela Associação das Companhias de Habitação Nacional. Vendo esta noticia ficamos pensando qual foi o critério para a avaliação desta votação?? Como um loteamente com tantos problemas pode ser considerado um exemplo a ser seguido por outros profissionais?

Para a pesquisa sobre este loteamente usei como base um artigo publicado no site Vitruvius,  o Estudo comparativo em habitação de interesse social:O caso do Conjunto Habitacional Gervásio Maia (CHGM) - João Pessoa de Marco Antonio Suassuna Lima  atravéz do texto conseguiu fazer uma ótima Avaliação Pós-Ocupatória (APO) do local, citando os pontos negativos e propondo sutuações ipotéticas que certamente iriam benificiar os moradores do local, e trazer acarretar em um menor investimento para os Orgãos Públicos.

O projeto teve início em março de 2006 e está Situado na periferia sudoeste de João Pessoa-PB, aonde foram construidas, 1336 habitações unifamiliares que foram entregues em dezembro de 2007. Os contemplados foram famílias que sobreviviam em acampamentos de lonas, em prédios invadidos e parte de movimentos sociais organizados.  O loteamento desenvolvido pelo Conjunto Técnico da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) está dotado de saneamento básico, equipamentos comunitários como Unidade de Saúde da Família (USF), escola, creche, quadra e ginásio esportivos e praças. Segundo dados da Secretaria Municipal da Habitação, o valor total da obra foi de R$ 24.070.130,4 sendo R$ 8.643.997,18 do Governo Municipal e R$ 15.426.133,22 do Governo Federal.

Ao analisar a imagem a seguir, logo de cara podemos notar o conceito do loteamento: repetição de casas térreas individualizadas e enfileiradas com reduzido aproveitamento do solo.

http://marcosuassuna.com/site/?page_id=216

“O Condomínio Residencial Gervásio Maia, está classificado entre os DEZ melhores projetos habitacionais do Brasil. O título foi conferido pelo 'Selo de Mérito', um reconhecimento oferecido pela Associação das Companhias de Habitação Nacional”

Quanto ao partido adotado, o solo foi parcelado rompendo a lógica do entorno de quadras ortogonais no sentido leste-oeste, inclinando as quadras em ângulo de 45º em relação às quadras dos loteamentos vizinhos. Em relação ao desenho do solo urbano, este segue a reprodução da quadra convencional, apresentando formatos retangulares e relação desproporcional entre uma grande quantidade de espaço privado (uso habitacional) em contraposição a fragmentados espaços livres e públicos (praças e equipamentos comunitários), habitualmente destinados para restos de parcelas do solo que cumprem os 15% do código de urbanismo municipal.

SATÉLITE

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Cada lote residencial possui uma área de 112,5m², e as casas possuem 37,22m² de área construída, contando com dois quartos, sala de jantar e cozinha integradas, sala de estar e um banheiro. O lote possibilita a ampliação da edificação para até 51,9m².

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As paredes são em alvenaria de blocos cerâmicos vazados (tijolos de 08 furos) com 0,10m de espessura, rebocadas com argamassa de cimento areia e cal (2cm de espessura em cada face) e pintadas com cal. O telhado é composto por telhas cerâmicas do tipo capa e canal sobre madeiramento com inclinação de 25%. O piso é do tipo cimento queimado. As áreas úmidas sobre a bancada da cozinha e o banheiro, possuem revestimento cerâmico com placas de 0,30m x 0,30m. O sistema de esquadrias é composto por duas portas de madeira maciça no acesso a casa (sala e cozinha) e três portas de madeira prensada do tipo semi-ocas, nos ambientes internos, três janelas de madeira maciça com venezianas fixas (sala e quartos) e duas janelas pivotantes em madeira e vidro situadas no banheiro e a cozinha.

Analisando o sistema viário local, nota-se uma grande área de vias locais o que acarretou em alto investimento, embora muitas destas ainda estejam sem calçamentos, por parte da prefeitura, as pavimentações destas, o que dificilmente ocorre num curto espaço de tempo. Essa desproporcional quantidade de vias para veículos é visivelmente paradoxal num bairro de baixa renda com poucos moradores proprietários de carros particulares.

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Para contrapor o modelo ainda vigente dos loteamentos governamentais em habitação social é necessário reforçar os seus aspectos negativos. Desta forma, as principais características do paradigma dos loteamentos anacrônicos são:

•Incapacidade de proporcionar qualidade de vida a maioria dos usuários;

•Subutilização da infra-estrutura instalada;

•Prioriza, na configuração espacial, mais o transporte individual com mais vias locais nos espaços internos dos loteamentos em detrimento de vias para pedestres capazes de promover áreas de convívio coletivo;

• Aumento no custo de execução do sistema viário pelo excesso de vias locais;

•Não prevê áreas para geração de emprego e renda no desenho urbano;

•Nivela por baixo as provisões de equipamentos comunitários, cumprindo pura e simplesmente a legislação hermética vigente;

•Reproduz ambientes urbanos sem identidade, massificado e que contribui muito pouco para a auto-estima dos moradores.

“Ainda há muito que fazer para que a habitação de interesse social no Brasil seja projetada e utilizada de forma eficiente. Para as intervenções em bairros carentes são essenciais utilizar ferramentas de projeto, tendo em vista um planejamento urbano adequado com a realidade local. Na prática, deve ser considerada a valorização estética das tipologias arquitetônicas, a provisão de espaços de lazer, serviços, postos de trabalhos e geração de renda preferencialmente próximo do local da moradia, do contrário pode-se estar construindo “favelas projetadas” nas periferias das cidades. Além disso, a história da habitação popular nos mostra que não basta entregar o empreendimento, é preciso um trabalho social de conscientização antes, durante e depois das obras a respeito de como conservar os espaços coletivos, num entendimento mais completo de cidadania, onde tanto os órgãos públicos quanto a população tem direitos e deverem a cumprir”. Mateus Veronese

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